sábado, 19 de julho de 2008

Conto sem adjetivo

Da preguiça.


Aquele era o dia de não querer nada. Tinha que fazer exame de sangue, e, até para isso, preferiu pegar um táxi a encarar um ônibus até seis pontos abaixo na avenida do bairro.
Não tomou banho. Pediu para a atendente do laboratório duas porções a mais de biscoito, ao tomar o café-com-leite. Nem tinha se dado conta de que até seu sangue demorou mais para encher o tubo de ensaio do que nas outras vezes. As porções a mais de biscoito eram para não ter que mexer nos botões do fogão, conseguiu pensar. Na rua, pegou outro táxi, para pagar com um dinheiro que não era seu, que deveria devolvê-lo naquele dia mesmo.
Subiu as escadas, somente um lance e entrou em casa. Não quis olhar a janela. A ida à rua satisfez sua impaciência. Não quis livro. Não quis TV. Apenas estatelou o olhar na sanca do teto. Quando escureceu, desabotoou o jeans, puxou a coberta, virou de lado e dormiu.

2 comentários:

Lua disse...

Existe uma influência do realismo de Bazin nesse conto ou eu que estou lendo os textos do Mariani há tempo demais? rs

Aaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

Beijos

Para não secar disse...

salve-se quens puderem-se. Cai na real, Bazin.

Não, lua. Há poiesis nisso. :op