sábado, 12 de dezembro de 2009

Cabeceiras

Eram cinco horas da manhã da quinta-feira quando fui acordada. Feliz. Íamos seguir viagem, pegar a estrada e percorrer 850 km até o sertão de Minas Gerais. Saímos meu pai, minha tia Iade e eu às seis e meia do Rio de Janeiro. Fizemos uma viagem sem pressa, com diversas paradas para esticar as pernas, tomar café e trocar de motorista. Nosso destino estava lá, as placas tectônicas do Brasil são bem sedimentadas. Montes Claros nos aguardava tranqüila como uma grávida de muitos filhos, boa parideira, esperando que nossas 15 horas de estrada transcorressem sem problema algum, como se deu. Chegamos, na verdade, na roça de Montes Claros, na Fazenda Cabeceiras.
O motivo da viagem não foi férias ou negócios. Foi um resgate. Resgatamos os últimos 60 litros de uma pinga de altíssima qualidade, a Viriatinha. O alambique de um falecido parente de minha tia passou para as mãos de uma outra pessoa que agora está produzindo uma cachaça para um outro tipo de público. O fato é que esses 60 litros são muito preciosos, tem muito amor a raízes vinculado a eles, por isso nomeamos a viagem de “o resgate”.
Cabeceiras é uma fazenda linda, onde nasceu uma gente forte e sensível como a água que rompeu placidamente a terra iniciando um rio e assim deu nome à Fazenda Rebentão dos Ferro, que continha anteriormente a Cabeceiras. Rebentão dos Ferro pertenceu a Pedro Ferro, tataravô do falecido marido da minha tia, meu querido tio Jacques, e a Cabeceiras pertence agora a seus irmãos, um povo festeiro e muito orgulhoso de sua origem, como deve ser, pois são gente de muito bem.
Quem nos recebeu na Cabeceiras foi a Generosa, mulher que honra o nome. Ela cuida de tudo em relação à casa. E o faz com muita alegria, o que contribuiu para que meu pai e eu ficássemos à vontade bem depressa, apesar de ser esta nossa primeira vez lá. Com roça nós já estamos acostumados. Ele porque nasceu numa, eu, porque sempre passei as férias nas que ele me levou. Mas, voltando à Generosa, toda hora de lanche ela coava um café fresco. No segundo ou terceiro lanche, a conversa circulou em torno do gostar de café, a quantidade que se tomava, o tomar café à noite, e eu perguntei:
- Não tira o seu sono, não, Generosa?
- É... preocupada de num tê!
Esse falar mineiro está também nas minhas veias, digo, cordas vocais, eu gosto tanto porque era o jeito que minha amada avó paterna falava. E foi bom demais da conta quando o povo começou a chegar na noite de sexta-feira, contando os causos da vida corrida da cidade mesclada com tudo o que acontece na roça nestes dias contemporâneos. Ruth, Marise, cunhadas da Iade, e Rogério, sobrinho dela, ficaram o fim-de-semana nas Cabeceiras. Hilton, concunhado da Iade, orbitaria, afinal, a roça é bem pertinho do centro de Montes Claros, menos de 15 km. A prosa comeu solta, e o Hilton contava uma piada, tocava um violão e a prosa continuava. Tudo regado a Viriatinha, cerveja, pele de porco frita (iguaria semelhante ao torresmo, só que mais crocante) e mandioca cozida.
No fim-de-semana, Cabeceiras recebeu mais gente para a festa. Todo mundo veio pra ficar mais a Iade; cunhados e sobrinhos vieram matar a saudade. De quebra, trocavam um dedim de prosa, ouviam uma viola, bebiam uma pinga e almoçavam uma comida boa feita no fogão a lenha pela Generosa, em panelas enormes, com conteúdos coloridos e borbulhantes. Colorido mesmo era o amarelo do pequi, ame-o ou deixe-o, fruta do cerrado que deve ser comida raspando os dentes em sua semente amarelão. Seu sabor é forte, seu cheiro muito peculiar. Meu pai e minha tia comeram mais de dez cada um. Eu passei batido (reparem o uso de terminologia carioca). Eu sei que o trem, além de ter um gosto estranho ainda é cheio de espinhos. Tem que ter ciência pra comer. Tô fora!
Bonito foi encontrar pequi pra comprar no Mercado Central de Montes Claros. É lá que os produtores da região expõem seus produtos. Uma profusão de cores invade os olhos como quando se vai à feira livre numa manhã de sol. Só que lá pudemos comprar o vermelho do urucum em pó, o amarelo ocre do açafrão-da-terra, o verde esmaecido do tempero misto feito com um cominho com aroma muito ativo. Tirei fotos de compridíssimos paus-de-canela. Num açougue especializado em carne suína, até senti falta daquele odor de morte como existe nos açougues em geral. Não tinha cheiro algum. Incrível. Realmente incrível.
Mas, quem come diz que o danado do pequi também é de difícil digestão para aqueles que abusam. Eu sei que na noite de domingo, a Ruth precisou do remédio da Generosa, o tal do remédio que faz ficar bonita. Eu fui logo perguntando que remédio era esse. É o “SUPER VIDA” o remédio que serve para azia, boca amarga e mau hálito, verme, vesícula, fígado, hepatite, rins, estômago, intestino com prisão de ventre, empachamento e suas manifestações, úlceras gástricas, gastrites, reumatismos e dores musculares, purificador de sangue e das manchas da pele, auxilia no tratamento da diabete, desintoxicante do organismo, diurético e auxilia no tratamento emagrecedor. Emprega-se na anemia, fraqueza e sistema nervoso. Tudo isso somente com o uso de duas colheres em meio copo d’água. Realmente, como disse a Ruth, é de deixar qualquer uma mais bonita!
Na verdade, o ambiente acolhedor e de contentamento que a Cabeceiras oferece é que faz com que quem nasceu lá, quem casou com quem nasceu lá, quem nasceu de quem nasceu lá, quem vive lá e quem tem o prazer de dormir algumas noites sob o telhado da sede fique mais bonito.
Porém, numa das conversas, e lembrando-me das minhas férias em outra roça de Minas Gerais, falou-se do céu estrelado. Portanto, para voltar para o concreto, me preparei.
Eu, que vivo ao nível do mar, estando a 800 metros de altitude, me senti mais perto das estrelas, e, para vê-las, me deitei na grama úmida pelo sereno do cerrado.

domingo, 29 de novembro de 2009

Triângulo

Hoje encontrei um velho amigo. A cor da tarde era de um dourado como a do chopp com o qual brindamos à nossa saúde. Impossível não gravar aqueles matizes na retina. Fiz questão de gravá-los na retina do parceiro que se encontrava à minha frente e à frente daquele pier povoado de passantes juvenis como a tarde. Eu me sinto assim: juvenil. Este é um estado difícil de se disfarçar... juvenil... Poderia ter pego qualquer bicicleta ou skate e me divertido sozinho por toda a orla. Mas sozinho é uma condição que não habita mais em mim.
Voltei o assunto para nossas tardes de verão, na anterior adolescência, quando, mais tarde, pudemos dormir na praia depois de entornar num luau um garrafão de vinho barato. Falei das putas que comemos, do Nense saindo da lanterna, na vã esperança de disfarçar a presença dela, ali, inteira, como ela nunca poderia estar, somente estaria nos meus anseios.
A cada gole de chopp eu engolia um dos suspiros que teimavam em sair quando eu me distraía e, calado, me dava conta de que um homem de 1,90m também suspira.
Até que depois de pedir mais uma rodada, meu velho amigo perguntou quem é ela. Ela. Ela é quem não pode ser. E um pouco surpreso, totalmente aliviado, sinceramente aborrecido pela sensibilidade do meu amigo ter sido desperta e sem ter notado que eu é que estou dando muita bandeira, eu disse:
- Ela não existe.
- Ah, num fode!
- Não existe ela!
- Você vem falando de luz dourada e não tem mulher no meio?
- Pôrra, eu curto fotografia! A gente não se vê há tanto tempo que eu nem sei sobre sua aliança dourada aí e você não sabe nada sobre as minhas fotografias.
- Não enrola... quem é ela?
- Não tem ela, cara!
Se eu expus sua presença jamais revelaria seus modos, seu andar, seu hálito. Meu amor por o que temos é demasiado cuidadoso para que eu o compartilhe com alguém mais. Mesmo sabendo que ela se nega a um novo encontro, minha insistência não cede, nem seu desejo refreia.
Se ela expôs minha presença e revelou meus modos, meu nome e meus hábitos e, pior ainda, se caminhos antigos voltaram a se cruzar, bem fiz eu em negar sua existência.
Se ela expôs a origem da jovialidade renascida, após anos de convívio rotineiro, ela a expôs resplandecendo dourada na retina de quem pôde vê-la.
Se ela pagou o preço dessa exposição, se ela desestabilizou uma união com filhos, a mim, só me resta aguardar, só me resta a espera de um sorriso cúmplice.
Por isso, com o sol se pondo, pedi a conta e fui embora assobiando.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Versões em nossos labirintos

Versão Feminina dos fatos:

Não é porque é uma noite de sexta-feira que toda garota tem que estar indefectivelmente preparada para sair e arrasar quarteirões. Mas, a pedidos, ela saiu com suas amigas, para refrescar o ânimo após uma semana de trabalho habitual, humano, igual ao de todos os seres humanos habituados ao trabalho mediano numa sociedade capitalista. Tomou um banho, colocou as pernas para o alto durante quinze minutos e escolheu uma blusa decotada cor de vinho, realçando sua pele branca. O ânimo ainda não estava lá essas coisas, conseguiu pensar que aquela seria uma boa cor para afastar abstêmios e, quem sabe, conseguiria manter conversas ininteligíveis com bêbados ou trazer suas amigas de volta para casa, caso passassem do limite alcoólico.
Chegando ao bar, elas pediram as bebidas e suas amigas foram para a área onde se jogam dardos. Ela preferiu ficar no balcão. Ela tinha as mãos trêmulas, não curtia muito jogar dardos, mas adorava ver as pessoas acertando a pontaria. É algo que julgava fazer parte do caráter de alguém: acertar na mira! Mas, pediu ao barman um Campari com suco de laranja e ao se virar, viu alguém fazendo dela mira. Não resistiu e sorriu naturalmente.
Era um rapaz bonito, cercado por outros rapazes. Eles estavam bastante animados, já deviam estar lá no bar há algum tempo. Ela continuou sorrindo, mas achou melhor desviar aquele olhar capturado... mesmo sem querer. Olhou para o jogo de dardos, por pouco tempo. A captura tinha sido eficaz. Quis voltar o olhar para o moço, mas se segurou, olhou para seu copo de Campari, ficou mexendo sua bebida. Levantou o olhar, lá estava o dele: olhando firme para ela, sorrindo. Ela sorriu de novo, era involuntário... E ele andou até ela, sorrindo. Chegou cantando, acompanhando a música de fundo:
- Meu coração não se cansa de ter esperança de um dia ser tudo o que quer...
- Quer dizer que além de olhar, você também sabe cantar tão bem assim, é? Ela respondeu na hora, e pensou: Eu sou assim, só consigo elogiar quando gosto de alguém...
- Quer um cigarro?
- Não, obrigada, eu não fumo... Mas, bebo. Disse a moça e pensou: Ele ficou sem-graça, veio atacando com essa do cigarro, depois de chegar cantando Caetano... que mudança disrritmada...
- Eu também bebo. E bem.
- Seus amigos também. Vocês estão comemorando alguma coisa? Pensou: Tenho que ser bastante simpática, quero esse cara pra mim hoje.
- Não. Hahahahah! Parece, né?
- Sim. Hahahahahah! Camila, muito prazer!
- Rogério, o prazer é todo meu. Ele disse de um modo todo pegajoso... Pegajoso o suficiente para grudar no desejo dela. Ele procurava jogar a fumaça do cigarro para o outro lado, mas acabava indo para os olhos dela, que disse com uma voz cheia de veludo:
- Você quer me fazer chorar?
- Só se a gente voltar pr’aquele estágio do “muito prazer”...
- Uau! Você é direto como um dardo! Você me olha de um jeito que parece até que eu estou segurando um exemplar do Kama Sutra... Ele sorriu verdadeiramente. Ela adorou ter sido tão espirituosa, mais até que seu decote. Ser espirituosa era uma característica dela, muito mais do que de suas roupas. Ela sentiu que alcançou um espaço dentro dele que ainda não tinha tocado com aquele comentário.
E a noite foi transcorrendo até o primeiro beijo. Mistura de whisky com Campari. Sabores indistintos dentro das duas bocas unidas. Foi quente, foi ato contínuo do beijo para o abraço bem apertado, levantados dos bancos, abraços em pé, tocando os corpos todos. Ele levantando os cabelos dela e dizendo gracinhas em seu ouvido, ela adorando como se fossem antigos conhecidos, antigos amantes. Mas, estavam no balcão do bar, o sinal do pudor tocou dentro dela, ela se afastou. Sentou-se. A música tocando alto. Ela resolveu olhar para suas amigas, se divertiam lá nos dardos. Ela estava abalada com a intensidade daqueles beijos, fazia tempo que não vivia nada assim. E ele falou:
- A gente podia sair daqui para um lugar mais calmo...
- O barulho da música não deixa a gente conversar... Ela falou depois de pensar um pouco. Seu coração disparara. Sim, o levaria à sua casa. Não devia nada a ninguém, estava resolvida. - A gente podia... Ficou reticente. Pensou um pouco mais, afinal de contas, não conhecia o rapaz. E daí? Segundos transcorreram no interior da jovem mulher, mensurando sua capacidade de decisão. Quando queria uma coisa, lutava por ela e a conquistava. Estava decidida. – Vamos até minha casa. Ela foi avisar suas amigas que estava indo embora e não o viu contar aos amigos com ar de vitória que sairia com ela.
Pegaram um táxi, se agarrando no trajeto, o calor deles estava bom demais. Chegaram. Subiram as escadas ainda aos beijos. Ela abriu a porta. Ele quis jogá-la no sofá, mas ela foi preparar uma bebida. Um whisky, com gelo. Deixou-o na sala, ele foi olhar a estante de livros. Ela achou isso muito positivo, aliás ela estava achando tudo muito positivo. Enquanto preparava o whisky, começou a se policiar: Eu vou dar pra ele, e só. Não preciso achar tudo positivo nele. Ele é uma gracinha, beija bem pra caralho, e só. Eu estou alta de tanto Campari, e só. Não devo beber este whisky, e só. E voltou para a sala.
Entregou o whisky para ele que bebeu um pouco e deixou de lado. Ele a abraçou e falou:
- Me leva pra sua cama.
Ela o levou e quis que o momento fosse doce. As roupas foram tiradas com delicadeza, as proteções foram tomadas com delicadeza também. Ele alisava seu cabelo e descia suas mãos pelo corpo macio daquela jovem mulher, encantado e cuidadoso para que seu desejo não se transformasse em rudeza. Mas, como homem e mulher que eram, no transcorrer dos fatos, o ato de suave se tornou vigoroso e os dois acabaram encharcados de suor. Poderiam ter caído um para cada lado da cama, mas permaneceram abraçados, suados, como se fossem amantes há muito tempo. Sintonia de corpos. Ela voltou a pensar que aquilo era muito positivo, mas percebeu o ressonar dele, ele havia dormido. E resolveu dormir também.
Na manhã seguinte, eles acordaram, ainda abraçados. Quando se perceberam assim, nus, claro que aproveitaram a ocasião e, mais uma vez, o desejo falou alto. Ela pensou que ele não tinha vontade alguma de ir embora. Mas, alguém tinha que fazer algum movimento nesse sentido... Ele não demonstrava nenhuma vontade de levantar da cama. A cabeça dela não parava: Sim, ele é ótimo, mas não pode ficar o sábado inteiro na minha casa... Nem conheço ele. Hahahahah! O que eu faço? Comida! Comida é um bom subterfúgio! Ela pegou na geladeira uma caixa de suco de laranja, um copo de requeijão e um pacote de biscoitos e levou pra cama. Agia com muita naturalidade. Eles comeram juntos e ele se movimentou para ir embora.
Ela ofereceu o banheiro para ele tomar banho, mas ele não quis. Disse que queria ficar com seu cheiro o maior tempo possível, disse isso rindo, ela gostou de ouvir. E, rindo, pediu o telefone dela, anotando no próprio celular. E ela anotou o dele também. Ele foi embora. Ela ficou. Ficou lembrando da intensidade e da positividade daquela noite e daquela manhã. Entrou no chuveiro alegre por ter exercido sua feminilidade em toda sua potência.

Versão masculina dos fatos:

Seus olhos claros de mulher de primeira logo me fisgaram. Meus sentimentos pulsavam com a verdade sentida na casualidade daquele momento. A solidão que eu sentia nos meus dias parecia que se esvaíra em segundos. Como descrever a emanação da vida que resultou na cor dos seus negros cabelos? Não sei. É como se o fantasma da sua existência me cantasse e me encantasse, como se fosse à refração da luz na água contida no aquário do meu ser.
Esse foi o sintoma de vê–la. Ela adentrou no bar, enquanto meus olhos estagnavam para o nada. Talvez eu já tivesse ultrapassado os limites do meu corpo, acho que bebi demais naquela noite. Sabe como é sair com amigos farristas, sempre resulta em embriaguez. Mas quando ela entrou rapidamente meus olhos procuraram o alvo certo. Parecia que eu tinha ingerido ânimo, vontade, sei lá... Eu a mirava mais do que aqueles homens bobos que perdiam suas noites preciosas jogando aquela porcaria de dardos. Eu a olhava, a fitava como um animal; estava encantado como o seu luzir, era como um engodo, e eu era o peixe prestes a cair na sua rede.
Meus amigos perceberam meu olhar furtivo e logo mexeram comigo, me desafiando ou me encorajando... Não me lembro bem. Só sei que apontei meu dedo indicador para o rosto de um deles e disse bem baixo.
– Aquela mulher será minha.
- Ahhhhhhhhhhhhh. Vai lá gostosão.
- Vocês querem apostar? – Eu disse esbravejando certeza.
Riram, debocharam de mim. Não sabiam eles que isso me encorajou ainda mais.
Acendi um cigarro. Passei a enxergá-la pelos vãos da fumaça. Seu vestido vinho era o adorno da sua pele branca. Olhando para ela eu podia sentir seu corpo junto ao meu... Era o prazer mistificado naquelas primaveras de amor.
Eu fui ao seu encontro todo desengonçado, parecia até que eu havia pulado de cabeça em uma piscina de whisky. Porém nada poderia me conter, pois eu estava sendo atraído pelos recônditos espaços da incompreensão do novo sentido em mim.
Cheguei perto dela de forma meio ríspida... Cheguei aos seus ouvidos e deixei fluir o que estava dentro de mim. Acompanhando a música do ambiente cantei:
- “Meu coração não se cansa de ter esperança de um dia ser tudo o que quer...”.
Saiu tão natural, e tão carregado de sentimentos que foi como se houvesse saído um peso daqui de dentro... Uma expressão de prazer que se iniciava, um lograr imperecível.
- Quer dizer que além de olhar, você também sabe cantar tão bem assim, é? – Me disse ela.
Será que eu canto bem ou é apenas educação da parte dela? Tenho quase certeza que é educação.
- Você quer um cigarro? – eu ofereci
- Não, obrigada, eu não fumo... Mas, bebo.
- Engraçado eu também bebo.
- Seus amigos também. Vocês estão comemorando alguma coisa?
- Não. Ahahahahah! Parece, né?
- Sim. Hahahahahah! Camila, muito prazer!
Então Camila é o seu nome... Eu sou horrível com nomes!
- Rogério, o prazer é todo meu.
Enquanto eu tragava meu cigarro, eu a reparava cada vez mais, é como se meus olhos tivessem ligeiramente encontrado o deleitar do vício. Estava viciado... Camila meu mais novo sinônimo de dependência.
- Você quer me fazer chorar? – Me disse ela
Eu fiquei pensando... Engraçado como aqueles três segundos pareceram horas. Maldita cachaça. Por que isso? Não entendi... Inventei uma reposta.
- Só se a gente voltar pr’aquele estágio do “muito prazer”. - Eu a disse.
- Uau! Você é direto como um dardo! Você me olha de um jeito que parece até que eu estou segurando um exemplar do Kama Sutra...
CARALHO... Por essa eu não esperava, estava me deparando com uma pervertida. Eu dei um sorriso verdadeiro, fiquei de certa forma feliz por termos tamanha ligação.
A noite ia pingando a cada segundo admiração e ostentação. Todo sentido na vida é feito de causa e efeito, o nosso prolongou-se e finalizou-se num ladino beijo... Beijos formados nos moldes do “Lego”, aquelas pecinhas que juntas alcançam qualquer formato. Senti que podíamos ser muito mais do que um casal. Poderíamos ser castelos inteiros, de cores e formatos diferentes, somos muito mais do que uma simples conseqüência... O pensamento que transcorre no acaso, o preenchimento labutado pela solidão dos meus dias até então.
Depois daquele estranho e indescritível beijo, eu a pude sentir no calor do meu abraço. Minhas mãos percorriam pela sua formosa cintura, seu corpo nos moldes da protuberância me queimava de leve, é como se a fagulha do desejo tivesse sido evocada, o incêndio que não se pode controlar... Estávamos jubilados pelo desejo dos nossos corpos.
- A gente podia sair daqui para um lugar mais calmo,
- O barulho da música não deixa a gente conversar... Vamos até minha casa. Ela me disse com um ar de segurança.
Enquanto ela foi avisar as suas amigas que ela iria embora, eu discretamente fiz um sinal de positivo para os meus amigos. Tudo bem discreto para ela não reparar. De certa forma estava me vangloriando, pois não apenas consegui ter a menina mais linda daquele bar, como também...
Pegamos um táxi, e nos beijávamos diante de uma pequena e insignificante platéia, o motorista. Deixamos o táxi e subimos as escadas do seu apartamento, as paredes nos escoravam... Naquele momento era difícil pensar em temperança, mas ela se controlava e me puxava pelos braços me levando até o seu ninho de amor. Chegando ao apartamento, a primeira coisa que eu vi foi um sofá, tentei atira-la sobre ele. Ela esquivou-se com uma habilidade digna de nota. Imperatriz Leopoldinense nota 10. Eu pensei gargalhando por dentro. Ela sorriu pra mim e foi pegar uma bebida.
- Essa mulher está me deixando louco. - Disse sussurrando.
Enquanto ela pegava a bebida, eu parei defronte ao espelho, arrumei o meu cabelo, esfreguei meus dentes com o dedo indicador e coloquei um Trident de canela na boca. Depois dessa cena ridícula, fiquei abismado com os livros em sua estante. Fiquei surpreso por ela gostar de Maiakovski. Olhando mais vi um livro do Kama Sutra. Taradinha ela... Quando ouvi seus passos se aproximando tirei rapidamente o chiclete da boca e o joguei certeiramente em uma samambaia que estava ali perto.
Ela me entregou o Whisky, eu dei apenas uma bicada e o deixei de lado. Eu a abracei e fui direto ao assunto:
- Me leva pra sua cama.
Ela me levou, sentia sua sutileza em sua doce condução. Fomos tirando a roupa, parecíamos que estávamos em câmera lenta... Tirei a camisinha do bolso e nos precavemos como deve ser. Alisava seus cabelos, sentia a forma do prazer em seu rosto. Fui descendo a mão. Sua pele lisa como seda, a delicadeza estava presente literalmente na forma de mulher. E que mulher.
Fizemos a nossa musica seguindo a sua cadência, éramos o fruto de seu ritmo. As estrelas foram atraídas pela nossa gravidade, caíam e com o tempo se tornaram em uma grande labareda de fogo... Somos nós queimando em sua cama.
Ficamos abraçados depois da consumação do ato. Fechei meus olhos fingindo que havia dormido, quando os abri reparei que ela havia caído em um singelo sono. Reparava na silhueta de seu corpo nu... Decidi dormir também.
Quando acordei, seus olhos me fitavam com uma doçura apaixonante. Olhei para seu corpo e tive a certeza de que queria reviver a sexta-feira. E revivemos. Eu estava com uma preguiça tão grande e escancarava sem nenhum pudor... Ela levantou-se da cama e rapidamente voltou com uma caixa de suco de laranja, um copo de requeijão e um pacote de biscoito. Comemos juntos... Eu decidi que iria embora.
Ela me perguntou se eu queria tomar banho. Eu disse que não, pois queria ficar com seu cheiro enclausurado em mim. Peguei o seu número e anotei na agenda do meu celular e vice e versa. Eu fui embora pasmo com aquela mulher, estava feliz da vida. Queria vê-la centenas de vezes. Fui descendo as escadas, tentando recordar todos os momentos... Peguei o celular e liguei pra todos os meus amigos e disse esbravejando:
- Ganhei a aposta, Porra!

Versão masculina por Guilherme Canedo (você encontra mais deste grande e sensível escritor em www.diariomofado.blogspot.com)
Versão feminina por Stella Arbizu

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Pedra e Cal

Sob uma muralha.
Está o meu desejo.
Pedra e Cal,
De um peso que ainda não se tem medida.

Concretude, rigidez,
Polidez, até.
Distâncias, distanciamentos.

Não, não há chance sequer.
Nem minha verve,
Nem minha plástica,
Não, não há chance sequer.

Sob a pedra e o cal,
Esconde-se minha segurança
De mulher íntegra,
De mulher livre,
De mulher experiente,
De mulher vivida.

Sob a pedra e o cal
Está uma arroba de anos:
O peso de uma geração,
O peso de alguns prazeres a mais.

Nunca, jamais darei o primeiro passo.
Fraca.
Sábia.
Bem mais sábia.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

O camelo azul




O camelo azul.


Freada de bicicleta.
- Pára, porra. Não te empresto mais.

- Foi mal, não vou repetir. Deixa eu dar mais uma volta?

- Vai só até a esquina e volta. Também quero andar...


Esses dois sempre se entendem. Um de onze e o outro de dez. Desde quando corriam descalços e com chupeta na boca pelas ruas de subida do Morro do Juramento. Narizes escorrendo, misturados com o sumo de manga dos verões no subúrbio. Sorvete da Kibon não dava pra escorrer, o dinheiro do vô era curto, como continua sendo. Sacolé a vó fazia, de manga, também.
Na primeira vez que viram uma goiabeira, traçou-se o pacto de confiança e cumplicidade. Claro que treparam na goiabeira, um subindo na frente para alcançar a fruta maior lá do alto. E se deixando sem guarda, em posição de quem confia muito em quem vem subindo atrás. Laço de amor. Se alternavam na liderança, corações puros.
Tal goiabeira estava plantada no quintal de dona Clementina, uma viúva solitária, que permitia e se deliciava com as aventuras dos dois meninos pelo seu quintal. Dona Clementina recebia raras visitas de sua filha Jurema, que havia escolhido, por deleite, por gostar de homem mesmo, o ofício dos mais antigos. Jurema passou a visitá-la somente após a morte do pai, mesmo assim com baixa freqüência. Mas, Jurema em casa era alegria para o coração daquela mãe, que conseguia entender o arder no corpo da filha – devia ter herdado do pai, que não a tinha deixado em paz até o dia da morte.
E Jurema apareceu em uma tarde de verão, 42 graus nas ladeiras do morro do Juramento. Os meninos estavam no quintal. Dona Clementina na varanda da casa olhando os dois trepados na goiabeira. Quando ela abriu o portão, os meninos desceram da árvore para pedir água à dona Clementina. Jurema disse:
- Água, nada! Você vão tomar é picolé da Kibon!
E tirou da bolsa de couro colorido três notas de mil Cruzados Novos. Os olhos dos meninos cintilaram.
- Jureminha! ‘Brigado! E saíram desembestados para a padaria, enquanto Jurema abraçava a mãe que deixava suas lágrimas escorrerem pelo ombro da filha.
Quinho ainda estava sedento e diminuiu o ritmo. Como estava segurando as notas, ficou olhando-as:
- Celo, esse careca barbudo deve ser importante pra caramba, hein?
- Ah, cê vai querer o seu de quê?
- Acho que vou querer de morango.
- Boa. Eu também vou querer de morango.
E chegaram na padaria.
- Moço! Tem picolé da Kibon?
- Tem sim, deixa eu pegar a chave pra abrir pra vocês.
- A gente vai querer de morango. Disse Quinho.
- Ih, mas só tem de manga, uva e goiaba.
- Aaaaahhh! Então eu vou querer de uva. Falou Celo.
- Eu vou querer de goiaba. Preferiu Quinho. – Por causa da nossa goiabeira.
Eles entregaram os três “barões” e receberam algumas moedinhas de troco. Voltaram andando com cuidado para aquelas preciosidades não caírem no chão. Mas não durou muito tempo. Celo tirou o papel todo e jogou fora, o sorvete nem escorreu pela mão. Quinho manteve o papel e foi mordendo devagar aproveitando pra dizer que goiaba ele conhecia a árvore, mas que não conhecia a árvore da uva, só os cachos. No final do picolé, quando Quinho tirou o papel fora, ele viu algo estranho no palito, tinha alguma coisa escrita nele! VALE UMA BICICLETA. Quinho começou a gritar, chamando por Celo, mandando ele ler, gritando – Eu ganhei, eu ganhei! Celo dava pulos de alegria, abraçava Quinho, os dois corriam juntos subindo a ladeira, entraram no quintal de dona Clementina, gritando por Jurema, - Olha só, Jureminha, foi por sua causa! Eu tenho que mostrar pro vô, a gente vai ter que ir na fábrica da Kibon buscar a bicicleta, tomara que seja azul! Será que o motorista de ônibus vai deixar a gente entrar com um camelinho azul? Jureminha!!!!!!

E, agora, o camelo azul entre eles.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O camelo preto


Ele chegou com a força redentora. Iria salvar uma vida a três. A vida a dois já não prestava. Só prestava a vida a três, que dependia sobremaneira da vida a dois.
Duas rodas aro 18, 20 marchas, correias dentadas, selim confortável e o guidom, para guiar. Guiar o quê?
Os adesivos do camelo preto os três tiraram juntos, para que ele se transformasse numa bike maneira. Os adesivos foram colados na perna cabeluda do pai. A mãe tratou de arrancá-los com força, talvez, assim, quase, mas eu disse quase, se vingando.
Ela o ama, ela o ama, ela o ama. Ainda o ama. Ela repete seu mantra toda vez que caem migalhas, não mais centelhas, naquela vida. Vida? Sim, vida. Mais um aniversário comemorado a três.
E o camelo preto trazendo frescor àquela família. Os olhos de jabuticaba do filhote estavam doces, expressando o sabor daquele momento. Os três, de novo, juntos, andando de bicicleta. Ela chorou, olhos aguados transbordantes de ilusão mantida.
E, naquele dia, foram para a orla, pedalar. Comemoração em família. Os olhos dela não paravam de desaguar. O motivo agora era o Vento Leste soprando forte no sofrer dela. Mas, para ela, era só o Vento Leste nos olhos abertos corporalmente. O pior cego... Uma água de coco?
Água de coco só para dois, aquela criança com o olhar doce, olhar feliz, olhar de harmonia. As lágrimas dela agora não escorriam. Água ali era só do coco. Doce e gelada, refrescou tudo, refrescou a dor escondida, refrescou as sobras de um peito partilhado, mas refrescou por pouco tempo. Para o pai, cerveja. Cerveja. Ele pediu cerveja.
E ela foi molhar os pés em água salgada, daquele mar que sabia do sal das suas lágrimas. Até que veio, arrebentando os bloqueios do não fazer feio, veio, como uma tormenta, um furacão com nome de mulher, um vomitar de tripas, um estilhaçar de coração, o choro veio, ainda inominado, ainda sem ter razão de ser. As ondas quebravam forte, desenhadas contra o céu esmaecido de entardecer. Nuvens. E ela finalmente viu, nas espumas das ondas quebradas, os pedaços do lar que seu sonho construiu, mas que o panorama vivido não permitia que ficasse inteiro. Seu corpo sacudia, ela conseguiu gritar, a voz ainda baixa, o som do mar por cima do ai abafado. E pôde se deixar assim, a se deixar de ser alguém que, mártir, carregava a imagem da família nas maneiras. Soluços, ais, torrente de lágrimas. Presente de aniversário. Projetados nas nuvens, os cacos daquilo que ela já não suportava mais tentar colar, mosaico de dor. E ficou lá. Dos soluços vieram os vômitos, violentos, visão não mais velada, vilipêndio de uma vida, vício da vidinha, viver venal, vergonha de sua vil ausência de vigor de suportar mais um pouco, vulnerabilidade involuntária. Presente de aniversário.
E ele, o pai do filhote, nem notou seu afastamento, interessado em saber das vendas do quiosque da orla. O filhote ainda na bicicleta, fazendo círculos em torno do nada, na brincadeira pueril de somente andar de bicicleta, com todo o prazer que lhe cabe.
Ela lavou o rosto no mar, na espuma, sabendo que aquele camelo preto não teria força redentora nenhuma. É só deixar o filhote crescer mais. E andou de volta para a orla.

Tortura


Ele acordou todo torto aquela manhã. Estava torto como se já houvesse nascido assim torto. Como se não lhe houvessem endireitado a vida inteira. Prumo, reta, chão. Durou a vida toda. Ate aquela manhã.
Uma vaga lembrança o remetia a uma remota pista. Talvez tivesse sido um sonho. Delével daquela forma não teria entortado desta maneira torpe tão magnífica matéria. Os sonhos nada são se comparados à matéria. E ao poder que ela conquista. Poder também é abstrato. Mas, nada delével, como são os sonhos.
E mesmo do alto de seu poder, ele notou que estava torto mesmo. A imagem no espelho estava certa. A tortura era por dentro. Aquele sonho.
Espreguiçou-se em pé ao espelho. E, refletido, o encontrou. Uma tripa saía de seu umbigo, ensangüentada. Um assombro dominou seu rosto. O assombro ficou ali, naquele território conquistado, por meio minuto. Ele não conseguia pensar. Logo ele, não conseguindo pensar. Na metade seguinte daquele minuto, ele teve nojo. Uma tripa em seu umbigo. E começou a analisá-la, já que tinha voltado a pensar. Estava unida a seu umbigo, como se nunca tivesse tido sua queda comemorada. Como se não tivesse sido mumificada em uma gaze e guardada para sempre no baú de tesouros maternos.
Finalmente, percebeu que aquela tripa o deixara torto, do jeito que era ao nascer. Começou a empurrá-la para dentro do umbigo. Um orgasmo intenso o sacudiu. Sentiu prazer. Então, puxou a tripa, como um cabo-de-guerra. Que conquistas sentia. Puro prazer de poder. O cabo-de-guerra trazia as conquistas que lhe faltavam. Percebeu que poderia ser César ali, manipulando aquela tripa umbilical.
Daquela outra ponta, naquela altura da vida, não era alimento materno que vinha. Ele recebia tudo que lhe faltava. Todos os prazeres individuais de que tanto necessitava.
E ficou ali, em frente ao espelho, ao sabor de suas vaidades. Sua esposa não o notara. O banheiro dela ficava do outro lado do quarto. Ela banhou-se, penteou seus cabelos negros, vestiu-se e foi-se para o seu dia. Ele tampouco a notara. Sua imagem era componente das vaidades dele. Ela estava ali no meio dos prazeres individuais, da facilidade de combinações de metas para galgar a vida social.
Horas passavam, o sangue imaginário começara a ficar escasso. Era via de mão única. Ele recebia, recebia. Não havia entorno para empurrar. Não havia calor para trocar e nem as batidas de seu coração eram ouvidas por alguma mulher, mais velha ou não.
E a tripa começara a afinar. As sensações eram agora tênues. A vaidade o cansara. Aquele poder já não satisfazia.
Talvez, se tirasse os olhos do espelho, conseguisse achar uma resposta para aquele vazio que começara a sentir. Mesmo com o desespero estampado no olhar, não queria perder aquela imagem.
Se ele pudesse olhar para o lado, veria o que havia escrito no box repleto de vapor, num momento de liberdade de sua alma. Raro momento, permitido inconscientemente, que trouxe aos seus lábios um sorriso de mulher. E, com eles, alguns sonhos deléveis, moradia de sentimentos comungados por homem e mulher.
Se olhasse para o lado, encontraria ali, coberto de gotas d’água, dois conjuntos de letras que explicariam aquela tortura. Letras fugidas de um calabouço profundo, lamacento como os calabouços devem ser.
A tripa umbilical já era um fio. O prazer da vaidade se extinguira. Em sua mão restara apenas um fio de cabelo. Longo, louro e cacheado. Ele o enxergou. Jogou-o no vaso e deu a descarga. Saiu, seco e torto, sem ler no box: Anjo Louro.



Escrito em agosto de 2003

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Durante o dia


Durante o dia
é que se cria
o caminho do meio.
Meus pés se plantam nele, no durante:
meu caminhar.

Orações ao dia que nasce,
esperanças.
Orações do fim do dia,
súplicas e refúgios.

Que o Oriente
me oriente a fazer
do dia-a-dia laboral
a felicidade do Presente.

Para que o durante não seja duro ante a vida.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Staggered


Staggered websailor
just wanna sail by herself.
Just.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Rosana


Rosana
Hermana
Emana de ti um perfume de flor.
Rosa?

Poderia ser...
Mas é flor mais exótica
Flor rebelde que
explode em cores magníficas,
que, ao sol,
nos entorpecem e enebriam.

À lua, é qual serpente,
envolvente,
hipnotiza-nos
com seus grandes
olhos de mel.

Tigresa.

Sua pele protege
pensares, sentires, seres,
viveres e amares que,
qual tigresa,
eleitos têm acesso.

Raros eleitos.

Rara.

Rara mana.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Passagens

* as merdas que a gente fez já adubaram nossas dores.
* abreviatura é uma palavra tão grande...